quinta-feira, fevereiro 22, 2007

O Mito da Perfeição

Quanto já não me questionei sobre o perfeccionismo. Aprendi a ser assim e criei várias justificativas para isso. Meus pais sempre me foram um exemplo: de retidão, de comportamento correto e comedido. Nunca os imaginaria sendo desonestos ou descontrolados (a não ser quando minha mãe queria matar eu e meu irmão nas horas das briguinhas), mentirosos, trapaceiros. sempre vi os dois, e toda a família também, mantendo uma postura invejável nos dias de hoje. Trabalhadores, esforçados, nossa, um baita exemplo. E para mim ainda são desse jeito.
Ai fiquei pensando como esse modelo me formou. Sou orgulhosa dos meus valores e da minha compreensão do mundo, agradeço a cada minuto a criação que me deram, mas fiquei pensando no efeito colateral. Sim, porque por melhor que seja a criação de um filho sempre aparecem efeitos não esperados.
Eu sou perfeccionista, radical.
No meu trabalho procuro ser o mais correta e esforçada possível. E
por mais que nos últimos tempos esteja cricada com meus empregos eu ainda admito que gosto de trabalhar, gosto de executar minhas tarefas da melhor forma possível.
Nos estudos sempre fui a pobre da CDF. Nunca colei, até a faculdade nunca tinha matado aula, nunca copiei trabalho dos outros, nunca deixei pros outros o que era meu serviço (por mais que quisesse). Meus trabalhos eram verdadeiros partos pois nunca atendiam à minha concepção de
"bem feito". Fazia e refazia tudo inúmeras vezes, procurando o melhor possível, e talvez o impossível.
Na minha vida e relacionamentos em geral sempre fui honesta, tento ao máximo não me render ao caos das minhas emoções, poucas vezes perdi realmente as estribeiras (acho que poucas pessoas viram o bicho que posso me tornar, ou conseguiram forçar esse bicho a sair), não aprendi a fazer joguinhos (posso ser tapada, distraída, mas jogar com os outros nunca foi minha especialidade), tento poupar os outros do meu lado feio, do meu lado que ainda não é perfeito.
Acho que criei um código pessoal de perfeição. Isso inclui atender as minhas expectativas de desempenho e as expectativas que acreditava que os outros me atribuiam.
Complicado ser perfeita, principalmente nos padrões que defini para isso. Hoje no trabalho pensei no como isso me imobiliza. Não que eu acho que sou perfeita, não sou mesmo, mas como busco isso. E por mais que às vezes meu coração pareça de piche, não é bem assim. Eu quero acertar o tempo todo (e é diferente de querer ter razão em tudo), eu quero conseguir o que está além, aquilo que todos dizem que não é possível. E se não posso hoje quero poder me reformular para alcançar isso, tenho que fazer pois faz parte, se não consegui ainda é porque não me esforcei o suficiente. Detesto perceber um olhar de decepção, pois estou falhando com os outros e comigo também.
Como não me permito um tanto de coisas que fazem parte da vida, por mais feias ou incorretas que pareçam. Elas fazem parte, todo mundo faz, mas eu acho que não tenho esse direito pois iria contra tudo que aprendi e formulei que devo ser.
E de repente vejo como me decepciono, pois nem perco a compostura nem atendo meu padrão irreal de conduta. Planejo, penso, reflito, chego às conclusões, ou simplesmente explodo, mas tudo num micro cosmo a parte de todo o resto. Mesmo as coisas que deveriam sair do micro cosmo ficam lá, encapsuladas,
pois podem acabar com meu mito de perfeição. Queria fazer mais do que faço, queria falar mais do que falo, queria sentir mais do que sinto. É estranho.
Cansei disso, mas não sei como me livrar.
Engraçado que li tanto sobre traumas, formação de personalidade e tudo mais, contudo não entendi até hoje como se apaga uma programação antiga e substitui por uma nova mais adaptativa. E na boa, é complicado perceber onde se erra e não conseguir mudar isso, porque simplesmente é assim. Comportamentos mudam, mas a história que os formou continua lá, como interpretar aquilo tudo de outra forma e mudar para algo novo?
Cansei de me exigir tanto.
Sempre falei que eu sou meu pior carrasco e não sei como mandar ele embora. Só que quero que ele vá, quero mudar isso antes que me sufoque mais.

Sei lá, acho que tenho divagado demais, pode ser a falta da terapia, espero chegar a algum lugar com todas essas "reflexões"...

Um comentário:

Anônimo disse...

Desculpe aparecer do nada, mas estava procurando "prefiro ter um filho viado do que um filho velha" e curiosamente parei aqui. Acabei vendo esse seu último post, com o qual me identifico muito. Também sempre fui perfeccionista. Claro que a resposta está imensaente longe disso, mas gosto de comparar a um instrumento de cordas. Para estar afinado é necessário que as cordas estejam rígidas, mas não demais. Rigidez e flexibilidade no ponto certo formam a combinação ideal. Cheguei a conclusão que eu mesmo era rígido demais. Não acho esse o pior dos defeitos, para ser sincero acho muito pior quem não liga para nada nem ninguém. No meu caso a solução passou um pouco por um certo orgulho em ver que eu era um dos poucos que realmente tentavam e pelo pensamento de que se me esforçasse o máximo possível não deveria ter arrependimentos. Por isso creio ser uma ótima coisa sonhar em ser uma boa pessoa, mas sempre tendo em vista que somos imperfeitos. Sentir é sempre bom, algumas vezes a pura racionalidade não nos levará tão longe quanto nossos sentimentos. Eu vivi essa verdade pessoalmente e sou muito grato por isso. Mas isso é uma jornada muito longa e cada um deve descobrir o que lhe faz sentido. Se me permite a ousadia penso que pelos sentimentos expostos aqui vc pode sim estar no nível de seus pais (seja agora ou no futuro) Apenas siga em frente e não cometa o erro de esquecer quem vc foi até hoje e sem medo do que vier pela frente. Desculpe qualquer coisa e boa sorte. Também eu sigo na minha jornada por um pouco menos de rigidez.