sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Concurseiros


Numa época remota você estudava a vida inteira pra chegar na faculdade e finalmente estudar o que gosta. Poderia exercer sua vocação, escolher uma profissão legal, ou pelo menos conquistar o status de profissional graduado.
Nos tempos atuais isso não existe mais.
Já vi vários casos de colegas de trabalho que colocam os filhos, ainda no segundo grau, pra fazer cursinho de concurso bem cedo, pra ver se a criatura arranja uma teta pra mamar e resolver o problema da família. Aqueles que tem um pouquinho mais de tempo ou recurso vão fazer qualquer faculdadezinha, pra garantir um salário melhor e poder concorrer a uma vaga de nível superior.
Não importa a área, é nível superior, to dentro.
Pipocam cursos boqueta, que são "autorizados" pelo MEC, e que distribuem diploma sem muito questionamento.
Direito sempre foi concorrido, mas agora é muito mais, afinal os melhores salários de concurso são pros "devogados"...
As faculdades particulares se tornam reféns dos alunos, que ganharam o direito de revogar qualquer decisão de professor (nota baixa, cobrança de faltas) porque estao pagando pelo ensino. As universidades públicas, por sua vez, se fecham naquela empáfia de construtores do saber, e se isolam desse meio, colocando professores e acadêmicos no mercado (aqueles estudantes profissionais, que passam 20 anos dentro da universidade, só estudando e vivendo de bolsa).
Mas voltando aos concursos...
Eu bato na tecla que o serviço público vai entrar em colapso dentro de uns 15, 20 anos. Os profissionais que estão assumindo cargos importantes não possuem as competências necessárias pro exercício de suas funções. É claro que o trabalho forma conhecimentos, mas o caminho fica mais tortuoso, e nem é garantido. Já ouvi de muitas bocas que quando se passa num concurso é a garantia da estabilidade e dinheiro fácil.
Não é à toa que o filme de funcionário público é pra lá de queimado. Mas a mentalidade de quem entra hoje é de que conseguiu uma boca garantida, que dá um monte de direitos e quase nenhuma obrigação.
E pra entrar nesse clubinho vale tudo. Fora as horas de cursinho, agora temos a figura do mandato. Você lê no edital os requisitos, se inscreve atestando que os tem. Ai quando passa na prova, que muitas vezes é só uma fase, se acha no direito de constestar o edital que foi aceito. Se uma prova pros Bombeiros diz que você tem que ter 1,70 de altura, não adianta teimar que com 1,67 você tem direito de entrar. Você já não tinha o requisito inicial. Mas hoje os concurseiros tem estio pra questionar isso. E ganham o direito de estar no clubinho mesmo sem cumprir os critérios estabelecidos. Os critérios existem por algum motivo... se são idiotas ou não devem ser discutidos antes do processo, não depois das provas corrigidas.
Outra que me revoltou foi saber que agora existem cursinhos pra passar em testes psicológicos.
COMO ASSIM????????
Pois é, eles colocam um bando de maná numa sala e explicam como é feito o teste e ensinam estes desajustados a simular um teste de pessoal normal.
Isso é um crime... de verdade... pense que quem faz teste psicológico pra ser aprovado é policial. E nessa brincadeira de estudar pro teste ou de entrar com mandato contra laudo psicológico abre brecha pra gente sem condições emocionais e cognitivas portarem armas, e ter poder de polícia, e ter resguardo dessas ações.

Eu, que gosto muito de tirar onda, posso bater no peito orgulhosa e dizer que faço parte do grupo que fez a faculdade que sonhava quando criança. Que encontrei na minha profissão os desafios e conquistas que esperava. E fiz concursos pra exercer aquilo que estudei e me preparei. Por mas que brigue com chefe, com sistema, tenho a consciência tranquila de que estou num cargo adequado a tudo aquilo que defini pra minha vida profissional, que não estou lá pra encostar na cadeira, tomar um cafezinho ruim e esperar a aposentadoria chegar.

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