quarta-feira, novembro 30, 2005

O Senhor de Dois Castelos

Recuperando coisas que escrevi há tempos...

O SENHOR DE DOIS CASTELOS

Tudo aquilo que esta ao alcance de seus olhos lhe pertence, pois sempre foi assim. Tudo que ele sempre quis lhe pertence, pois sempre foi assim. Todas as ordens que proclamou foram obedecidas prontamente, pois sempre foi assim. Infelizmente as coisas não podiam mais ser daquele jeito.

Finalmente encontrara algo que não poderia ter, pois afinal não pertencia aos seus domínios. Mas assim deveria ser, pois sempre fora assim. E como reagir a essa incongruência? Afinal tudo podia, tudo tinha, nada menos que tudo merecia ser seu, afinal era ele o senhor daquele castelo.

Difícil perceber o valor que a ausência assume. Difícil entender que para não ser contrariado em sua vontade criou novas explicações, novas justificativas, novos ímpetos que justifiquem aquela ação, que justifiquem aquele valor e aquela batalha, mas ao final se percebe que não lutou por nada além do próprio ego.

É muito melhor cegar diante da realidade e construir um novo castelo em cima daquele pântano. De fato, algumas vezes é muito mais belo viver na ilusão. Mais que isso, é poder olhar por sobre os muros de seu castelo com um certo desânimo só para dizer que o outro lugar seria melhor se fosse meu. Não importa aquilo que tem, afinal já é seu, o importante é aquilo que escapa de suas mãos.

E assim ele caminhou, entre sonho e realidade, sem de fato se entregar a nada realmente.

Os dias se passavam. Quão angustiante pode ser uma espera? Quantos peões deveria mover naquele jogo? Sim, agora não bastava ter, tinha que vencer, tinha que conquistar. Mais valorosa se tornara a questão, mais um passo foi dado em direção à insanidade daquilo.

Suas terras já não eram as mesmas, muito menos sua vontade.

N o alto de sua torre estava ele, sentado em seu trono, apoiado em sua espada. Já não tinha mais a mesma força e o mesmo brilho no olhar, não erguia mais sua voz de comando, seus pensamentos vagueavam, colidiam, sem trazer, contudo, algo novo.

Ainda era vitorioso, pois assim proclamara. Mas qual o preço de sua vitória?

Tudo aquilo que esta ao alcance dos seus olhos lhe pertence, pois assim deveria ser. Tudo que ele sempre quis lhe pertence, pois assim deveria ser. Todas as ordens que proclamou foram ouvidas, pois assim deveria ser...

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