terça-feira, janeiro 29, 2008

Try Walking In My Shoes

Fiquei batendo papo com meu irmão outro dia, trocando figurinhas sobre psicologia e afins. E ele me perguntou por que todo psicólogo fica doido em algum momento da vida?
Piadinhas à parte, comentei que não tem muita saída, quando se forma em Psicologia (se forma de verdade, não apenas o título que muito babaca sustenta por ai) você ganha um "dom" que é uma maldição no final das contas.
Fiquei remoendo um monte de coisas que já estava pensando e fui juntando...
De repente você passa a entender o todo das coisas, mas não como um tipo de onisciência. Você passa a perceber as coisas ao seu redor, ao redor dos outros, das questões da vida, das questões rotineiras. Se antes seu campo de visão era de 90 graus, agora você tem pelo menos uns 120 graus de amplitude.
Mais do que ninguém você sabe sobre a sua história e como você chegou aqui e agora. Você entende seus motivos e sabe que não pode usá-los como desculpa, afinal foram suas escolhas.
Você percebe quando está se enganando, quando está se boicotando, mas muitas vezes não tem a mágica resposta de como resolver isso, afinal depende de tantos fatores.
Você perde o direito de simplesmente explodir com as pessoas, só pelo simples fato de explodir. Se alguém de magoou, foi porque você permitiu. E ainda assim, você consegue entender o ponto de vista do outro e tenta mediar uma solução que traga um ponto comum a ambos. Não se aponta para o outro, se abre um debate.
O problema é que você fica cercado de pessoas que não entendem o que você, sente ou pensa. Pessoas que não se preocupam com o seu ponto de vista, ou com sua história, isso tudo é desculpa esfarrapada. Você tenta explicar, afinal é tão lógico o funcionamento daquilo. Mas não adianta.
Qualquer comentário é entendido como uma acusação, e a resposta a esse "ataque" e um ataque maior. Melhor, fica mais fácil apontar toda a sua responsabilidade diante daquilo. A culpa é toda sua, um presentão...
Só que você já sabe da sua culpa, ela te atormenta, ela te faz repensar tudo a todo momento, mas quando é jogada na sua cara dói muito mais.
Não é porque se tem consciência de algo que isso não vai fazer sofrer. Muitas decisões e escolhas foram adequadas numa época, mas é hoje que se paga o preço delas. E por mais que tenha sido um ato seu, não significa que não cause dor. E a falta de compreensão disso machuca.
Se espera do psicólogo uma paciência infinita, um cuidado sem igual, um carinho, um ombro amigo, mas a reciprocidade disso não é uma realidade sempre.
Sim, reciprocidade é fundamental em tudo.
Não é uma dívida, mas é necessidade de se sentir apoiado, cuidado, mesmo que nem sempre tenha ferramentas pra expressar isso.
Você consegue perceber o quanto se tornou desajustado. Que todas as possibilidades que tinha não geraram os frutos que imaginou na adolescência. Vê que tinha tudo pra dominar o mundo, mas, como todos que tenatram isso, você dá com os burros na água. Percebe o quanto seu comportamento se tornou pouco adaptativo, o quanto você desviou do caminho. Você chega a um ponto que percebe que não é mais 1 décimo do que era, nem 1 centésimo do que esperava ser. Você apenas existe ali naquele momento, perdido em milhões de elocubrações, de teorias, de compreensões do mundo, que muito provavelmente nunca vão fazer diferença pro outros.
Você chega no seu consultório e percebe que não está tão errado, que suas idéias funcionam e realmente fazem as pessoas melhorarem, atingirem objetivos antigos, sairem de crises. E naquele momento você tem alívio, de que pelo menos pra isso valeu a pena. E tem a pontinha de alegria de acreditar de novo que você não é um alienígena. Que se funcionou pra essa pessoa que tá na sua frente talvez você consiga fazer funcionar na sua também, por mais que em casa de ferreiro o espeto seja de pau.

Agora responde: como não se fica louco vivendo assim?

2 comentários:

Daniella disse...

Se tudo que dá errado é sua culpa tudo que dá certo é seu mérito?
Se você é quem espera ser alcança a iluminação e vai pro céu dos justos?
Não adianta existir uma auto conscienia crítica e severa assim se ela só sabe ver o lado negativo. Você pode não ser o que era, nem o que queria ser, mas isso não é necessariamente ruim. Não mesmo.

Anônimo disse...

Minha cara psicóloga, candidata a louca... seja bem-vinda! Sou poeta e não há nada diferente na minha imersão neste "mundo ao redor das coisas"... Vejo o seu blog e fico imaginando o que vc vive, o que sonha, o que quer, quando chora, por que chora... Aliás todo poeta vive muitas vidas que não é dele, e fica procurando conhecer a razão das coisas... Não sei qual poeta que disse: "a loucura é apenas uma verdade particular" acho que foi o Quintana! Quer uma dica? Tente ver a poesia e as cores que há em tudo, mas que quase ninguém vê. Boa sorte!