quarta-feira, novembro 26, 2008

Os 5 Centavos


Ontem passei por um Mcdonald´s e resolvi me dar ao luxo de comer um Twix com sorvete.
To lá numa boa, e quando fui pagar o cara me avisa que o preço é R$5,25. Foda, mal lançaram e já aumentou... deve ser a crise mundial... bem que me falaram que em algum momento ela me atingiria... De cara já notei que a quantidade de twix também murchou, que quase não tinha calda... Mas já estava lá, etão resolvi não criar encrenca...
Fiquei catando moedas, pra ver se dava o dinheiro todo trocadinho, mas só tinha 20 centavos. Olhei pro carinha e perguntei se podia ficar devendo os 5 cents que faltavam...só pra não ter que pegar uma nota grande e tal. Ele me olhou como se eu tivesse pedido o sorvete de graça, e me avisou que não poderia fazer isso. Raios! Droga de script que programam nessa galera, não conseguem mover os olhos se não estiver previsto no roteiro.
Acontece...
Na hora de me dar o troco, ele ressaltou que eu tinha 75 centavos em moedas, e que eu poderia doá-los para a caixinha de salvação de crianças com câncer... Qualé?! Na hora de me liberar 5 centavos ele me fez aquela cara de enterro, como se eu fosse uma miserável pedindo pra ser levada pra casa, mas na hora de pegar minhas moedinhas de volta ele vem com aquele sorriso amarelo...
Realmente, fazer caridade com o dinheiro dos outros é muito fácil... e faz um bem pro marketing da empresa (agora o nome chique disso é responsabilidade social, muito em moda no mundo da gestão organizacional). Fora o constrangimento implícito na situação: "sua porca capitalista sem alma, vai matar centenas de crianças com câncer por não liberar 75 centavos?" Se o Ronald Mcdonald doasse o dinheiro que ele usou pra fazer aquela chapinha ridícula no cabelo, salvaria muito mais gente que o troco do meu sorvete.
Confesso minha falta de paciência com essas campanhas de fim de ano, na qual as empresas resolvem fazer o filme com o público e montam uma infinidade de artifícios pra juntar a grana dos outros e fazer caridade em seu próprio nome. E nem vou entrar no debate sobre o Criança Lambança, que todo ano aporrinha por 1 mês inteiro... Eu gosto de ajudar, não custa nada e faz bem pro coração, mas não por uma obrigação implícita, cheia de aparências mas com pouco sentimento (ou preocupação real).
Era só um sorvete, e me rendeu um tanto de considerações aleatórias... Vá lá... Eu e minhas ranhetices...

Um comentário:

Gustavo R. disse...

Olá Manu!
Muito bom esse texto!
Sinceramente, tem muita situação que a gente passa e parece que estamos pedindo um mega favor.
Nossa sociedade caminha para o absurdo. Sempre somos perguntados se podem ficar nos devendo os famosos 5 centavos, mas quando somos nós quem pedimos, as respostas, os semblantes e a disposição para um bom atendimento mudam de forma veemente.
Já passei por situações lamentáveis assim. Fiquei muito indignado!
Tem tanta coisa errada vinculada à nossa cultura. Como exemplo posso citar aquele mal humor que muitos brasileiros têm só do fato de ter que trabalhar, aquela insatisfação com o emprego. Ora, se não está satisfeito procure melhorar, mas não tente acabar com o momento de prazer de quem saboreia um sorvete.
:)