domingo, abril 12, 2009

Jagatá Vertical

É a primeira vez que moro em apartamento. Lógico que tem suas restrições, questões de limites, volume da vida mesmo.
Fora as adaptações normais do evento mudança, começo a perceber as diferenças de estar em um condomínio. Por mais que você seja reservado, sua vida faz parte do todo. Quem esta ao seu lado, acima ou baixo, sabe se acorda no meio da noite pra usar o banheiro, se pediu comida chinesa, se saiu atrasada pro trabalho, se decidiu deixar o salto de lado por um dia. Não tem como escapar... e inevitável não começar reparar...
Nos primeiros dias me constrangia de ligar a torneira mais tarde da noite. O prédio parece abandonado. Como num episódio do Stargate SG1, todo mundo apaga num horário marcado. Tudo escuro.
Parece que ninguém aqui tem vida social. Sete horas da noite o estacionamento já está completamente lotado, todos em suas casinhas, vendo a novela e cuidando dos bebês. Sim, muitos bebês e crianças pequenas. Ok, se eu tivesse filhos pequenos realmente estaria em casa às 7.
Meu apartamento é bem no cantinho, o penúltimo do corredor. Tenho um vizinho de frente, um na diagonal e o do lado. E eles vivem numa comunidade hippie pós moderna. Estão todos em comunhão de residências, sempre com as portas abertas, quase como quartos de um grande sobrado. Confesso que passo olhando pro fim do corredor com medo de um dia pegar alguma situação constrangedora.
Os vizinhos da outra ponta também têm esse hábito. Porta com porta, mas sempre uma brecha pra acesso à extensão do próprio apartamento.
O mundo tecnológico criou muitos eletrodomésticos bem interessantes, tipo o exaustor... o famoso Suggar. Principalmente em pequenos espaços, ele é fundamental pra você não lembrar daquela picanha na grelha elétrica que fez no almoço de domingo durante toda a semana. Mas aqui isso parece algo meio proibido, afinal neo hippies se desapegaram desses artifícios capitalistas. Todos cozinham de porta aberta, compartilhando com o condomínio seus menus.
Ainda não presenciei, mas tenho certeza que quando as crianças começam a chorar os pais soltam elas pelo corredor. Talvez elas fiquem aterrorizadas com o eco de seu próprio choramingo e parem de pertubar. Ou apenas seja pra ter aquele minuto de paz. Mas tipo assim... um dos motivos de escolher não ter filhos é não ter o mínimo saco pra berro de criança. Dai se supõe que escutar o berreiro do filho dos outros, que não são nem minha família nem meus clientes, é um porre.
Gosto de passar um bom tempo na janela olhando a paisagem. À noite me sinto na Little São Conrado: aqui ficam os prédios da classe média/ média alta... do outro lado da rua as luzinhas do Varjão subindo pelas encostas. Uma fofura! Sem a praia do Pepino infelizmente...
Fico só de olho no movimento na entrada do prédio. Fora a alta rotatividade de babás (não teria como ser diferente), de tempos em tempos tem algum marmanjo encapotado descendo pra fumar. Nas primeiras semanas me perguntei se era regra do condomínio a proibição de fumar dentro do prédio, mesmo nas áreas privativas. Dei uma lida no manual de normas e nada... Percebendo o alto índice de pestinhas, ops, crianças, matei a charada. E por isso os caras sempre descem com uma cara de putos da vida.

Darth já me avisou que a vizinha tá doida pra me conhecer... Meda... ainda não estou pronta pros rituais de iniciação...

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