quarta-feira, junho 22, 2005

Serviço Público: Quase um Estudo Antropológico

Ok, eu assumo que tenho minha parcela de culpa.
Dia de trabalho curioso. Eu fui reconhecida como boa profissional. O que eu fiz para tanto? Um telefonema. Eu segui uma ordem, simples, e isso me caracteriza como boa profissional. Não é a minha especialização, nem minhas idéias e projetos. Obedecer uma ordem e fazer um telefonema me rendeu um aperto de mão e congratulações. Foi como se eu atestasse que finalmente entendi que a teoria não se aplica à prática, que devo seguir as regras e pronto. Caminho fácil esse, muito tentador.
Não, eu não quero mudar o mundo, sei que a estrutura é muito maior e pesada que minha motivação (que fugiu para algum lugar e não deixou notícias). Mas agora o tal pacto de mediocridade que meus professores tanto falavam foi demonstrado. Aceitar aquilo que já existe, por mais errado que seja, é o caminho.
Uma pausa para a comédia: atender ao telefone é uma atividade de risco. Dando informações para um candidato recebi a cantada mais sem noção da face da Terra. "Hum, seu nome é bonito...você também deve ser... Quantos anos você tem? 27? Bom, eu tenho 37, por acaso você é comprometida? Se não for podemos nos conhecer..." Alô???? De onde vem uma criatura destas? Na dúvida sorria e bata o telefone na cara do indivíduo, mas tá...
Fui convocada pelo meu chefe, queria falar comigo e com meu companheiro de sala. Quando ele começou o discurso sobre como as coisas funcionam por aqui já pensei que ele reclamaria da minha tagarelice, dos meus foras, de falar alto e o tempo todo... Enquanto ele falava eu ia pensando em milhões de justificativas ( que não existem, a não ser o ócio). Mas estes não eram o foco da chamada. Era algo muito mais importante, mais vital para o desempenho das minhas atividades: Como sentar na cadeira. Isso mesmo, o modo correto de sentar na cadeira para não demonstrar a falta do que fazer, afinal "os superiores passam pelo corredor e olham você sentada assim...(pequena representação) e pensam que tem gente demais na seção, que não tem muito trabalho para fazer."
Nem minha mãe corrige o modo com o qual sento, nem meu pai, que é uma figura de autoridade na minha criação, falaria uma coisa dessas. Mas meu chefe sim.
Daqui pouco estou vendo uma Norma Operacional circulando: como sentar na cadeira e parecer produtivo! Posso fazer até um curso disso, afinal temos que gastar a verba de treinamento com alguma coisa, não importa o que seja.
Sim, eu estou revoltada. Sim, encheu o meu saco. Sim, isso não vai ficar barato.

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